domingo, 6 de janeiro de 2013

O que acontece quando o olhar nômade encontra a alma viajante?


Guardadas as pequeninas adaptações, esse texto é uma carta enviada a uma alma viajante que conheci há quase oito anos.



Hoje eu tomei muito café. Parece que os últimos dias de isolamento findando vem me dizendo pra não dormir. Não, não é insônia. É uma estranha (ansiosa?) vontade de boicotar o sono e aproveitar cada minuto da despedida, sabe?

E com muito café e vontade me joguei de cabeça em meio às caixas do depósito em busca de coisas que gostaria de rememorar. Não passei nem perto do que buscava. E encontrei muito do que não queria ter visto de novo (ainda). Mas me deparei com algo inesperado: uma pequena pasta recheada de experiências, singelas ingenuidades e belos retratos de vivências que não voltam mais. Aquelas, carregadas da energia que tínhamos - sem saber como e porque - quando iniciamos a faculdade, lembras?

Nasci e cresci urbanóide. E penso que justamente estas condições é que me ajudaram a criar um interesse enorme pela cultura paraoara, exatamente aquela que pouco vi ou vivi em minha casa, ou que eu mesmo não me deixei despertar. O irônico disso? Precisei sair de Belém pra pensar sobre uma simples questão: o que me fez/faz paraense?

Certamente foste e ainda és a pessoa que foi fundamental nesse processo - munida de algo muito mais importante que qualquer antropologia, mas de sensibilidade. E não só pensando isso, mas sentindo isso, foi que ao encontrar esta pequena pasta, chorei, ri, fiquei pensativo e gargalhei. Gargalhei bastante.

Sabe aquela sensação gostosa de rememorar vivências, ingenuidades e experiências? Estou deixando contigo algumas coisas que gostaria que ficassem contigo: as imagens do Curralistas do Pará, os documentos e o cartaz do AfroÍris e uma foto que tirei em algum lugar do tempo, em algum momento, num retorno de barco à Belém.
Ah, e já ia esquecendo: mando também um livreto chamado Fotografias para não esquecer. Gostei do prefácio, quando fala de olhares e viagens.

Se hoje pude encontrar todas estas coisas, foi porque em inúmeras viagens com um olhar nômade, pude ter a tua participação, a participação da tua alma viajante.



Curralistas do Pará, Marapanim/PA, 2006


Eduardo Mussi
17.12.2012

Um comentário:

  1. A identidade é algo criado não tanto pelo local geográfico onde nascemos e sim pelas experiências construídas junto àqueles nossos companheiros de jornada que também são almas viajantes, cidadãos do cosmo nesse nosso planeta Terra.

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