sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Não é o fim do muito

Casa? Minha casa é aqui. Depois que eu chegar e botar os pés no chão, pode ser lá, ou em qualquer outro lugar. Cheguei a ter várias casas em um único semestre, e demorei pra perceber o que isso significava, o que isso pesava na bagagem das ideias e das sensações.

Nesse período tinha o hábito de fotografar. Era quase como respirar, um ato contínuo que nem precisava pensar pra fazer, como se só pudesse ver pela lente da câmera. As vezes, mesmo sem máquina, via enquadramentos, sépias e ângulos interessantes. Era o momento que a máquina carregava as baterias, do contrário, eu não estaria vendo nada, mas registrando.

Hoje percebo que pouco guardei de cada um desses lugares - de muitos, por sinal - apenas alguns outros ainda vivem comigo. Posso lembrar os nomes, e adoro olhar as placas na beira da pista ou em um mapa e lembrar “que já estive por aqui” ou que “fulano é daqui!”.

Sim, várias e várias vezes chamei de casas esses muitos lugares, tão somente porque alguém me permitiu, e agradeço. Porto Alegre, Florianópolis, Londrina e Curitiba; São Paulo, Santos e Campinas; 
Hortolândia, Valinhos e Vinhedo; Sorocaba, Itu e Iperó; Ibiúna e Vargem Grande; Marília, Vera Cruz Garça, e Oscar Bressane; Ourinhos, Assis, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto; Sertãozinho, Araçatuba, Tupã, Arco Íris, Lins e Cafelândia; Araraquara, São Carlos e Piracicaba; Belo Horizonte, Poços de Caldas, Caxambú e Jaguariúna; Goiânia, Goiás Velho e Brasília; Imperatriz, São Luís, Barreirinhas, São Raimundo Nonato, Maceió, Recife e Salvador. O mea culpa é comum, mas inevitável: desculpem, mas não vou lembrar de todas!

Não guardei a data exata de minha chegada em Marília, e há alguns meses aguardava saber a data exata de minha ida de lá. Pensei, projetei e programei isto, ansiosamente! E ansiosamente, buscando e esperando pelo novo, é que me despedi.

Foram pelo menos nove anos de estada e estrada. Muitas idas e vindas, muitas mudanças de ares, muitas descobertas intensas e inusitadas, em todo esse tempo. Muitas mudanças de casa, muitas dormidas fora de casa e muitas voltas pra casa também.

Muitas visitas, festas, saraus e ótimas conversas. Muitas desavenças, louças por lavar, livros e textos por ler. Muita poeira varrida (e não varrida!) no tempo e tanta intensidade vivida que mesmo insistindo no muita e no muito, ainda assim é pouco.

Não faz muito tempo percebi que tenho mais memórias guardadas do período que já não fotografava mais. Praticamente nenhum registro guardado, mas muitas lembranças. Sem dúvida que perdi parte do que poderia ter registrado, e hoje, dependo da boa vontade das memórias não irem embora.

Duas imagens não se perderam no tempo, e não nego que foram sim registradas - só não lembro onde estão: as cores do nascer e do pôr do sol de Marília. Brancos, azuis, vermelhos, laranjas e lilases; e formas, muitas belas formas.

Quarta-feira, dia 6 de feveiro de 2013. Data exata de minha despedida de Marília. Não é o fim do muito. Mas com certeza o fechamento de um ciclo memorável, cujas lembranças ficarão marcadas em mim.

Mais do agradecer às casas que tive nesse tempo em que Marília me acolheu, levo comigo as lembranças das visitas ao
vale, a caminho de Dirceu: o pôr do sol dos fins de tarde, naqueles momentos mesmo em que a terra cora, e nas noites em que se via a lua amansar e se venerava a noite*.
 

Eduardo


*Canto de um Povo de um Lugar

(Pena Branca e Xavantinho)

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